O episódio envolvendo um manequim preto na loja Reserva em Salvador nesta terça, 15, não parece ter sido um erro.
A RESERVA é uma grife carioca criada nos anos 2000 por Rony Meisler e Fernando Sigal. Em 2011, o fenômeno dos negócios e espertalhão Luciano Hulk entra na sociedade da grife e, partir daí, a grife cria a marca Use Huck. Mas antes de falar desse colosso do empreendedorismo vamos contar um fato ocorrido em 2013.
No final de dezembro de 2012 ocorreu um furto na loja RESERVA da rua Bela Cintra, na região dos Jardins, em São Paulo. Como a loja tinha filmado toda a ocorrência, a equipe de marketing da grife resolveu fazer uma propaganda com as imagens capturadas e lançaram no Youtube em janeiro de 2013. Veja:
Nas imagens aparecem algumas frases interessantes como "Não precisa quebrar a vitrine. Apenas entre", "E corra, porque tem gente fazendo loucuras pela Reserva".
Segundo o fundador Rony Meisler, a estratégia de marketing da RESERVA foi uma "vingança inteligente". "Eles roubaram a minha roupa e a gente roubou a imagem deles. Tomara que eles fiquem chateados e venham reclamar", disse.
O que fizeram intencionalmente em 2013 repete-se em Salvador de 2022, agora sob o manto do equívoco. A mesma campanha "Loucuras pela RESERVA" usam agora um manequim preto, camisa listrada, quebrando vitrine para entrar na loja. A Salvador preta teria que aturar as estratégias de negócio da grife carioca. E a missão da RESERVA é clara: ganhar dinheiro criando polêmica. Vamos ouvir e ver o próprio Rony Meisler falando sobre o assunto num trecho destacato por SekueLab:
Quem você vê elogiando o fundador da RESERVA em sua visão sobre a marca no peito de traficantes é o bolsonarista José Junior do Afroreggae, amigo da mesma favela de Aécio Neves, Sérgio Cabral e Luciano Huck.
Realmente Luciano, o Huck, está em todas. Visionário como é e com a experiência acumulada em ganhar dinheiro com tragédias (como no episódio envolvendo a Peixe Urbano, da qual também é sócio, e a Tragédia da Serra em 2011 (entenda o caso)), Hulk, com sua marca na RESERVA, resolve ganhar dinheiro com o racismo que sofreu Daniel Alves com o Barcelona em 2014. Pega carona na campanha #SomosTodosMacacos.
A grife RESERVA, alinhada com a visão de Huck, passa a vender camisa da campanha em seu site. Só que Huck não esperava tomar um virote dos consumidores, que perceberam a pilantragem de faturar com o caso de racismo e começaram a criticar o apresentador que precisou jogar sua campanha fora. Nesse mesmo ano durante a Copa do Mundo Luciano, o Huck, faria outra incursão histórica convidando brasileiras a "se esfregar no americano", como diz Tom Zé.
O convite feito por Huck para as garotas brasileiras seria para um quadro do seu programa no Caldeirão onde a Globo disse que era coisa normal.
"Carioca? Solteira? Louca para encontrar um príncipe encantado entre os 'gringos' que estão invadindo o Rio de Janeiro durante a Copa? Chegou a sua hora. Mande fotos e porque você quer um gringo "sob medida" para este email - namoradaparagringo@globomail.com".
Dizem que a boca fala o que o coração tá cheio. Huck não mudará. Uma outra merda da qual o apresentador não conseguiu se dissociar foi a venda de camisetas infantis com os dizeres "Vem ni mim que tô facin". Na época disseram que foi engano, que a frase era apenas para o público adulto. Sei não. A estampa foi impressa em camisa infantil, colocada nas crianças, fotografadas com ela, colocadas no site, precificadas e ninguém viu? Precisou o consumidor se revoltar? Será que Eva, filha de Angélica, usaria a camisa?
Tanto o episódio do turismo sexual na Copa do Mundo como esse do "Vem ni mim" estão resumidos numa outra música de Tom Zé: O PIB da PIB.
Catorze, catorze anos, Doze anos, doze anos Imagine um gringo daquele tamanho Em cima da criança pobre nordestina, Sufocada, magricela, seca, pequenina, Ah, nossa senhora minha O pib da pib que pimba no seco Pimba no molhado Pimba no seco saco seco Peixe badesco na filha dos outros é refresco Ô senhora, mãe senhora, Nessa hora olha pra tua menina, senhora A prostituição infantil barata É a criança coitadinha do nordeste Colaborando com o produto interno bruto E esse produto enterra bruto Refrão: que dor, que dor Que suja a bandeira Oi, essa quebradeira Oisquindô - lalá Catorze, catorze anos, Doze anos, doze anos
Mas quem achava que Luciano havia deixado a RESERVA após suas ações pitorescas como disse a mídia empresarial, se engana. Huck recuou na marca Use Huck, mas continua nos negócios da grife. Só tirou o nariz da frente.
Em 2017 a RESERVA foi acusada de racismo ao colocar na vitrine de uma de suas lojas no Rio de Janeiro dois manequins pretos de cabeça para baixo e empendurados por corda. Na época a RESERVA alegou que toda identidade visual da Reserva é preta e vermelha e que nos períodos de liquidação a marca transforma o visual da loja, colocando tudo de cabeça para baixo. Caô da porra.
No mesmo ano outra denuncia foi feita por consumidores da marca. Uma foto com a etiqueta de uma das peças da marca trazia o machismo estampado no verso. A essa altura, a grife de Rony Meiler e Luciano Huck já era espepcialista em fazer mal. E mesmo com a marca sendo vendida para a Arezzo em 2020, num negócio que custou à Arezzo R$ 715 milhões, a disciplina de marketing da RESERVA parece longe que querer corrigir seu rumo, mesmo porque seus fundadores continuam na grife após a venda. As reiteradas ações da RESERVA mostram, ao contrário do que faz crer nos seus comunicados, que ações racistas, pedofílicas e misóginas são o centro de visibilidade dos seus negócios.
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