Porque o ataque ao artigo de Guido Mantega. Por Elder Arimatea
Se a primeira semana de 2022 começou com um camarão tentando salvar a nação, ela terminou com a gritaria dos endinheirados contra o contundente artigo que Guido Mantega escreveu sobre o nefasto governo Bolsonaro e sua origem no golpe de 2016.
O ex-ministro da Economia, que junto com o Presidente Lula enfrentou, em 2007, a maior crise econômica da história, faz duras críticas ao arcaico e ultrapassado modelo neoliberal brasileiro, implantado ainda no governo golpista de Michel Temer e hoje representado na figura perdida e amalucada de Paulo Guedes. Com o papel do estado brasileiro cada vez mais reduzido, o país vem regredindo socioeconomicamente como nunca antes em sua história.
A comparação que Mantega faz dos governos de Bolsonaro e Temer com os governos petistas chega a ser vergonhosa para os representantes da direita brasileira. O Ex-ministro lembra que, entre 2003 e 2014, os governos Lula e Dilma entregaram crescimento do PIB brasileiro, queda nas taxas de desemprego, redução das taxas de pobreza e aumento da renda do trabalhador, com o Brasil, nesse mesmo período, acumulando reservas em dólares, reduzindo seu endividamento externo, pagando sua dívida com o FMI e aumentando os investimentos públicos. Não foi o acaso que levou a economia brasileira a alcançar o posto de 6a maior economia do mundo em 2011.
Mas como os governos neoliberais do pós-golpe de 2016 só́ fizeram o país retroceder, destruindo grande parte dos avanços sociais e econômicos conquistados durante os governos Lula e Dilma, o artigo de Mantega não acertou apenas na cara do atual governante, ele também atinge a todos que de alguma forma defenderam a saída da Presidenta Dilma como uma oportunidade de fazer as tais reformas que levariam o país para o paraíso neoliberal.
O ex-ministro Mantega destacou os efeitos da reforma trabalhista implementada por Michel Temer, que prometia a modernização das relações trabalhistas, mas que além de não promover os empregos previstos inicialmente acabou por fragilizar como nunca o mercado de trabalho brasileiro, que já vinha sendo destroçado desde 2014 pelos efeitos da operação lava-jato que, de acordo com o Dieese, exterminou 4,4 milhões de empregos.
Mas a destruição dos direitos trabalhistas é algo tão caro aos neoliberais brasileiros que após o artigo do ex-ministro Mantega os representantes do dinheiro saíram logo em defesa de sua obra neoliberal. O Estadão, jornal paulista que representa e divulga o pensamento da burguesia nacional, soltou um editorial defendendo a reforma trabalhista como “um marco jurídico sofisticado, de raro equilíbrio social e econômico”.
Nada mais cretina e mentirosa que essa afirmação do Estadão, pois a reforma nunca trouxe nada parecido com sofisticação ou equilíbrio ao mercado de trabalho brasileiro. Muito pelo contrário.
Para os representantes do dinheiro a dura realidade vivida pelo trabalhador brasileiro é só um mero detalhe que não deveria alterar em nada a rota defendida por eles. A reforma trabalhista acabou por aumentar as taxas de desemprego e a precarização do trabalho, o que gerou um falso déficit previdenciário que ainda acabou servindo de desculpa para uma nova reforma, desta vez com a aprovação de uma reforma previdenciária que mais uma vez retirou direitos dos brasileiros, que passaram a ter que contribuir mais para a previdência, por mais tempo e para receber uma beneficio menor.
Como o estrago patrocinado pela direita brasileira não foi pouco, o ex-ministro Mantega poderia ainda ter citado outras reformas de cunho neoliberal que não geraram os efeitos prometidos, como por exemplo foi a implantação do chamado novo marco regulatório do saneamento, em 2020.
Com o intuito explicito de diminuir a participação do Estado brasileiro no setor do saneamento, favorecendo assim os interesses privados com a nova lei, o novo marco regulatório prometia a universalização dos serviços de saneamento básico no Brasil até 2033, mas, até o momento, mesmo com a retirada dos investimentos públicos, ele não trouxe nenhum novo investimento privado para o setor que mereça ser mencionado, mesmo privilegiando as empresas privadas em detrimento das empresas públicas, seja através de privatizações ou via novas concessões. O Instituto Trata Brasil, convescote que reúne e defende os interesses das empresas privadas de saneamento, foi um dos maiores defensores da nova lei para o setor.
Na Bahia no final de 2021 as chuvas causaram a morte de 25 pessoas, deixou milhares de desabrigados e mais de uma centena municípios baianos estão em estado de emergência. Num cenário como esse era de se esperar que, com o novo marco regulatório do saneamento em vigor, as empresas privadas viessem em socorro da Bahia, apresentando planos e propostas para recuperar o abastecimento de águas e a coleta de esgoto nos lugares atingidos. Mas por enquanto a iniciativa privada ainda não apresentou nenhuma proposta para o saneamento da região.
Assim como Bolsonaro, o Instituto Trata Brasil não deu muita atenção à Bahia e para os problemas causados pelas chuvas no estado, pois até hoje tanto em seu site como em suas redes sociais não aparece uma palavra de solidariedade com o Estado da Bahia e seu povo. Com certeza a recuperação do saneamento básico nas áreas atingidas da Bahia vai ficar a cargo da velha e boa Embasa.
O artigo do ex-ministro destaca que nenhuma das reformas aprovadas trouxe os resultados prometidos pelos seus defensores. Mas o que mais incomodou no artigo de Guido Mantega foi que ele mostrou de forma muito clara e explicita que, depois do golpe de 2016, tudo que foi apresentado como modernizante para o Brasil e para sua economia acabou sendo nefasto e prejudicial ao povo brasileiro. Mesmo que a mídia tente esconder ou distorcer o que o golpe neoliberal fez aos brasileiros, nós sabemos bem o que eles fizeram nos verões passados.
Acesse o artigo de Guido Mantega aqui.
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