A Bahia tem um jeito. Essa é uma verdade maior do que a cantada por Caetano cantor. Esta semana ouvi de um jornalista na rádia que temos três justiças: a dos homens, a de Deus e a justiça baiana. Essa justiça baiana cuja sede é o Forum Rui Barbosa construído no governo de Otávio Mangabeira, autor da famosa e recorrente frase: Pense num absurdo, na Bahia tem precedente.
Mas não quero aqui polemizar com o nome do fórum, tampouco com a perda do mando de campo de Mangabeira para a Itaipava na fachada da antiga Fonte Nova. Minha missão é entender porque o Instituto Médico Legal de Salvador ainda se chama Nina Rodrigues.
Raimundo Nina Rodrigues nasceu no Maranhão em 4 de dezembro de 1862 e morreu em Paris, dia 17 de julho de 1906. Foi um médico legista, psiquiatra, professor, escritor, antropólogo e etnólogo brasileiro. Tá no Wikipédia. Interessa saber por hora que Nina foi racista e muito racista. Racista dos piores que são os cientistas, que fizeram e fazem escola.
Tudo bem que se diga da racionalidade da época e da contribuição de Nina Rodrigues para o desenvolvimento da Medicina Legal... Mas o cara fundou a antropologia criminal no Brasil baseado no pensamento do italiano Casare Lombroso, para quem a delinquência era traço inato de certos seres, como persistência de sua ancestralidade selvagem.
Para Nina Rodrigues os negros e mulatos tinham o desenvolvimento mental incompleto e, com base na Medicina Legal, embasava suas conclusões em certas características físicas do crânio, nariz, boca, por exemplo. Nina, ao fim da Guerra de Canudos, chegou a examinar o crânio de Antonio Conselheiro para confirmar algum traço inato de delinquência, mas não achou nada.
O racismo de Nina Rodrigues não foi perversão. Ele, como muitos outros cientistas, acreditavam francamente nas pesquisas de sua época e ainda são estudados até hoje. Mas é preciso, na Bahia, resolver estas questões e promover uma limpeza, ainda que simbólica, no inconsciente coletivo e deixar de transmitir às próximas gerações os erros do passado.
É certo que, ainda hoje, se estudarmos os traços físicos dos encarcerados no estado da Bahia, a conclusão não será diferente dos estudos de Nina Rodrigues, mas sabemos muito bem que as questões são outras. Assim, Nina Rodrigues não cabe mais no letreiro do Instituto Médico Legal da cidade mais negra fora da África e, quem sabe um dia, também o Maranhão mude o nome de seu município. Em algum momento precisaremos falar também da Avenida Afranio Peixoto, a Suburbana, que também dá nome ao IML do Rio de Janeiro
Nenhum de nós, singel@s leitor@s, quer que nossos corpos estejam "no Nina" como se diz cotidianamente na grande periferia que é Salvador.
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